Ela partiu em um dia úmido de novembro. Algo em sua música preferida dizia que havia “quem endurecia sem nunca perder a ternura”. Essa era a Noelle.
E eu, "eu que sou de guerra dei o sangue na missão de regar a terra".
Lembro de ouvir essa música e pensar como a música era sobre esperança, mas para mim era sobre desilusão, a voz silenciada da minha companheira desistindo de ter vontade de se multiplicar, as lutas que me nos foram tiradas, uma chefe que me fez acreditar que eu estava dirigindo meus planos enquanto eu servia aos seus planos, nossas carreiras que ao mesmo tempo que moldavam nossos sonhos, matava nossa fé. Uma miscelânea de guerras internas que nos separou do mundo.
E assim, mesmo com amor, nosso pesadelo não floresceu em sonhos.
E por falar em miscelênea, quando essa já é uma, continuei por mais tempo do que achava que conseguiria vagando nessa cidade em que só eu não existo, vivendo mais um tipo de maldição de forasteira em um vazio que se alimenta de cancelamentos , que por sua vez se alimenta de opressões e oprimidos ilusórios – em uma geração que é mais fácil se espremer para caber em uma minoria do que admitir nossas falhas como opressores – o que por sua vez alimenta o exato sistema que seus discursos dizem querer destruir, deixando pra trás uma pilha de corpos muito reais, perdidos na categoria “pessoas” agora que não podemos mais ser mulheres a despeito de ainda termos que carregar todo o peso de uma ge nitália que não importa no discurso, mas que ainda
Não veremos nossos frutos nascer no próximo janeiro, mas vivemos nossa primavera em dias que serão sempre a minha eternidade, mesmo que algumas flores tivessem espinhos. Só venço no que espero ser o verso de quem descobri ser minha melhor amiga, ”A única luta que se perde é a que se abandona e nós nunca. Nunca abandonamos luta"
Audre Lorde, Sister Outsider.