Dessa Vez Eu Não Vou Mais: Esquecer Fraternidade
A realidade na maioria dos dias é nebulosa demais e minha inabilidade de assimilar o que está acontecendo me dá vontade de chorar, me sinto presa dentro de mim mesma, presa dentro do meu próprio cérebro, estou tão cansada que meus olhos não conseguem ver de verdade, há algo bloqueando toda a luz de passar, há algo bloqueando todo o sentimento de sair. É como se várias abas de internet houvessem aberto no meu cérebro e todas elas estivessem travando.
Postergo coisas até o último segundo com medo de que elas possam me comer viva, sinto dificuldade de estar de corpo presente em leituras, filmes, conversas inteiras. Demorei quase vinte anos para conseguir conhecer minha irmã de verdade, a única coisa que consigo assimilar é: ela é uma das coisas mais importantes da minha vida.
Durante os vinte e oito anos da minha vida sinto que já vivi umas cinco encarnações, mas entre os quatro anos – o nascimento da Paloma – e mais ou menos uns doze, quando fiquei Rebelde, talvez tenha sido uma das mais marcantes. Percebi muito tarde na minha vida como todas as memórias boas que tenho crescendo são relacionadas à minha irmã mais nova, sua companhia após momentos muito assustadores, ela deve se lembrar pouco ou nada disso, mas tentava subir no meu beliche nas noites mais frias, me ajudava a construir as barracas para me esconder do caos do nosso dia a dia e sempre levava nossa gatinha preta, Pandora, até o guarda roupa em que eu me escondia para me fazer companhia.
Hoje em dia, com a minha memória comprometida talvez pela desatenção própria do TDHA , pergunto coisas da infância para ela e me surpreendo pelas memórias. Como ela me achava brava e antissocial, algumas vezes deprimida, mas gostava que eu a levava no cinema sempre que brigávamos, dos dias que eu passava longe ou tentava fugir de casa, mas sempre voltava por ela, do gosto do meu feijão ou do meu bolo e de como depois, quando ficou difícil, ela levava comida na cama para mim. O que consigo lembrar mesmo é que talvez esse amor esmagador pela minha irmã foi o que me manteve seguindo em frente.
O amor definitivamente salva.