Dessa Vez Eu Não Vou Mais: Me Ignorar
Por que levamos tanto em conta o que o mundo externo pensa de nós quando internamente é sempre uma batalha?
Muitas vezes conversar comigo pode ser um ato solitário, vou precisar levar em consideração cada palavra que você me disse antes de conseguir pensar em respostas, algumas vezes a pessoa conclui que não estou prestando atenção no que ela disse e me pede para repetir alguma coisa, não consigo, esqueci dos detalhes e na verdade estava me esforçando demais para prestar atenção. Tenho uma disfunção executiva de uma comorbidade do TDHA que geralmente só deixa meu coração acelerado demais porque sei que devo estar esquecendo de algo.
A maior pegadinha do meu dia-a-dia é não conseguir fazer coisas como iniciar tarefas ou ir ao banheiro quando estou apertada porque meu cérebro está numa briga metalinguística sobre como eu deveria estar fazendo algo, mas antes preciso terminar de fazer algo completamente irrelevante, de repente tricotar polainas para o gato da minha namorada: completamente vital para a minha existência, mais que beber água talvez.
Aos poucos aprendi que rituais e hábitos podiam mudar minha vida, o único problema era que os meus não tem início, meio ou fim no mesmo horário da de um paulistano comum. Meu ritual é acordar, tomar café com a minha namorada, escrever algo que nada tenha haver com trabalho, ler um pouco, deitar no sofá, pensar no meu caos de dentro e de fora e aos poucos me movimentar para a fase da produtividade, que só vai começar ali para o meio dia, uma hora, e terminar nove da noite.
Nesse mundo em que fui parida, vejo dia após dia que minhas necessidades são ignoradas e lidas como preguiça. Que minha resistência de participar de uma reunião em um horário do dia que o sol bate melhor na minha cama ou no meu sofá é praticamente um ato de rebelião e por isso não mereço fazer parte de um mundo corporativo que a postura de uma mulher forte e dona de si é sair direto da cama para, com uma única xícara de café amargo, ir direto para a tela de computador. Como Audre Lorde alerta em “Sister, Outsider”
“O horror maior de um sistema como esse é que ele rouba do nosso trabalho o seu valor erótico, o seu poder erótico e o encanto pela vida e realização.”
E resistir pra mim, ter tesão no que faço, é levar em conta cada pedaço do meu ser, dos meus rituais, da minha construção de hábitos. Estou cansada de me ignorar.