Estava vivendo mecanicamente: não sabia mais a sensação de se conectar com qualquer coisa que fazia – comer, dormir, tomar um sorvete, lavar minhas louças – passei a viver no automático, não sabia se aquilo era vida ou sobrevida até que a depressão começou a dissipar.
Estou aprendendo novamente o conceito do que existe no universo, reaprender o sentido da vida, porquê fazemos cada coisa, o sentido de limpar a casa, o sentido de andar um quarteirão, o sentido de comer, o conceito de tempero. É quase como se minha cabeça estivesse resetando tudo que vivi para que eu tenha a oportunidade de viver de novo, de acertar aprendendo com meus erros.
Viver de novo é aterrador, e lindo e ansioso. Quando olho no espelho sei de novo quem eu sou e de onde vim. Uma vez me disseram que personagens não tem como sarar, que era por isso que precisava ser eu mesma. Eu mudei ou apenas sou eu mesma de novo?
Lembrar já não dói tanto, mas fazer movimentos é assustador: preciso de um emprego fixo, preciso organizar minhas contas, preciso alimentar minha coelha, preciso continuar. Eu antes não queria continuar, só me apagar, deixar uma caixa vazia de mim na porta de alguém.
Tentar é novo assim como todas as coisas para mim: demanda atenção e energia da qual me esvaziei assim que a pandemia teve início, algumas vezes as coisas param de fazer sentido quando precisamos nos recolher tão para dentro de nós mesmos, quando precisamos ressignificar vida e morte como foi nos últimos dois anos.
Eu convido à todos ao movimento de voltar a se reconhecer, pensar cada movimento, sentir cada articulação. Algumas vezes estou tomando café ou tomando um banho e sou pega de surpresa: consigo sentir as coisas novamente, o efeito renovador ou então debilitante que têm no meu corpo. Vivendo com TDHA aprendi que não era desatenta, apenas tinha dificuldades em distribuir atenção para cada ponto focal na minha vida, meu corpo ansiando por dopamina tentando me fazer esquecer desejos quase dolorosos. Meu psicólogo ontem me disse que o que me fazia sofrer não era a vida, mas como eu sempre antecipava e desejava estar no segundo seguinte, como era escrava de buscar estar sempre bem e esquecia de viver o momento presente, o agora.
Sei que só por hoje funciona me focar nos meus próximos 15 minutos e vivê-los como se não fosse existir mais nada. O agora é bom, e incrível, e está me fazendo descobrir como não deixar passar mais nada por esse grande filtro de ansiedades que minha cabeça virou.
E você? Está vivendo o hoje, o passado ou o futuro?